Enterprise Architecture: A arquitetura corporativa e o papel do arquiteto de TI

Waldemir Cambiucci
Dezembro 2010

Tecnologias: Arquitetura Orientada a Serviços, Arquitetura de Soluções, Computação em Nuvem e Arquitetura Corporativa

 

Sumário: Este artigo apresenta uma visão sobre Enterprise Architecture (EA) ou Arquitetura Corporativa, um assunto que tem recebido atenção crescente no últimos anos em diversas empresas. Como garantir que os objetivos de negócio sejam contemplados na estratégia de TI? Como aumentar a efetividade do arquiteto na organização? Como coordenar diferentes expectativas de negócio e iniciativas que colaborem para a missão da empresa, tornando TI um componente chave para o sucesso? Essas são exemplos de questões que a Arquitetura Corporativa ajuda a responder.

Conteúdo

arrow_down.gifIntrodução
arrow_down.gifO mundo mudou?
arrow_down.gifO que é uma Arquitetura de TI?
arrow_down.gifEntão, o que é uma Arquitetura Corporativa?
arrow_down.gifO que é um Arquiteto de TI?
arrow_down.gifAlinhamento entre Negócio e TI
arrow_down.gifTI estratégica ou TI operacional?
arrow_down.gifHabilidades de um Arquiteto de TI
arrow_down.gifFrameworks de Arquitetura e outras ferramentas
arrow_down.gifO Zachman Framework
arrow_down.gifThe Open Group Architecture Framework (TOGAF)
arrow_down.gifArquitetura Corporativa como Instrumento de Gestão
arrow_down.gifRoadmap e Certificação
arrow_down.gifConsiderações Finais
arrow_down.gifLivros recomendados
arrow_down.gifLinks e Referências
arrow_down.gifSobre o Autor

Introdução

Nesses últimos anos você já deve ter ouvir algo sobre Enterprise Architecture ou Arquitetura Corporativa. Em eventos e apresentações sobre o papel do Arquiteto de TI, a expressão “Enterprise Architect” ou “Arquiteto Corporativo” já deve ter sido mencionada perto de você. Mas você sabe do que se trata? Ou melhor, esse assunto terá algum impacto futuro em sua empresa ou no seu dia-a-dia?

 

O mundo mudou?

Ao longo desses últimos 40 anos, vimos (tudo bem, alguns de vocês não viram :)) diferentes estilos de arquitetura e abordagens para a organização da TI nas empresas. Um desenho que já usei em meu blog você tem na figura 1, onde as diferentes abordagens de arquitetura aparecem em décadas.


Figura 1 – Estilos de Arquitetura ao longo dos últimos anos.

Dos anos 70 até os dias atuais, vimos estilos de arquitetura e tecnologias suportando funcionalidades de negócio que evoluiram ao longo do tempo. De mainframes ao modelo cliente/servidor, de Web ao modelo orientado a serviços, hoje vemos nascer uma nova abordagem de arquitetura que se torna cada vez mais interessante e emergente nas empresas: a computação em nuvem ou cloud computing.

Muitos especialistas já concordam que com a Computação em Nuvem, uma Arquitetura de Provisionamento Dinâmico e de Alta Escalabilidade deve orientar a construção das aplicações do futuro, oferecendo recursos e funcionalidades que permitirão o surgimento de novos negócios e produtos sobre uma TI mais dinâmica, o que deve orientar o uso de uma outra palavra conhecida: inovação.

Além da computação em nuvem, outras tendências em TI também mudarão o perfil das aplicações do futuro, como a computação de baixo custo, o business intelligence crescente, ambientes corporativos sustentáveis, busca pela inovação e Consumerization da TI.

Em toda essa evolução histórica, sempre tivemos a necessidade de um profissional que ajudasse na tomada de decisões sobre o futuro da TI nas empresas. Escolher entre uma solução cliente/servidor e uma arquitetura Web, ou entre a construção de um datacenter próprio ou a contratação de servidores de um provedor remoto sempre foram decisões necessárias e realizadas pelas empresas ao longo do tempo. Quem foi o responsável por essas decisões? Um arquiteto de TI? É bem provável, ainda que seu título profissional não fosse exatamente esse nos anos 80.

Para pensar sobre o assunto:
Durante seu próximo projeto ou definição de arquitetura, pare por alguns minutos e pense o que você faria diferente se Computação em Nuvem fosse uma realidade em sua empresa. Você faria algum componente, classe ou camada diferente se fosse possível utilizar a nuvem? Qual seria o impacto para o sistema final, o produto e para sua empresa?

O que é uma Arquitetura de TI?

Na Web podemos encontrar centenas de definições, com os mais variados focos e abordagens. Durante todo o artigo, vou utilizar como base as definições e recomendações de um grupo especializado no assunto, o IASA - International Association of Software Architects. Essa associação sem fins lucrativos tem por objetivo agregar arquitetos de software em suas diversas formas de atuação, organizando o conhecimento e ferramentas utilizadas no dia-a-dia do arquiteto, no exercício da arquitetura de software. Veja mais sobre o IASA no link http://www.iasahome.org/.

Segundo o IASA, arquitetura de TI é a Arte ou Ciência de desenhar e implementar estratégias de tecnologia de valor. E por valor, entende-se a entrega ou realizações em TI que suportam os objetivos de negócio da corporação. Através dessa definição, fica claro que a entrega de uma arquitetura deve atender os requisitos de negócio, as aspirações do usuário e a missão da empresa. Parece óbvio, mas é um desafio e tanto!

Para atender esse objetivo, precisamos conhecer os diversos componentes presentes na empresa, seus motivadores de negócio de médio e longo prazo, seus relacionamentos externos, suas políticas e departamentos, a cultura organizacional, seus colaboradores, seus riscos e forças de mercado, além do mapa de influenciadores e tomadores de decisão que suportam os diversos projetos internos da empresa.

Então, o que é uma Arquitetura Corporativa?

Enterprise Architecture ou Arquitetura Corporativa é uma disciplina sobre a arquitetura de TI, que envolve a estrutura da organização, seus sistemas, os relacionamentos entre subsistemas, seus mecanismos de integração e conexões com mundo externo, a terminologia de TI conhecida na empresa, as tecnologias presentes em seus componentes, os princípios de arquitetura aceitos para o desenho e evolução da TI, as capacidades da plataforma de aplicações atual, assim como os prazos, investimentos e recursos disponíveis para a tomada de decisões envolvendo TI.

Uma arquitetura corporativa exige de um arquiteto não só conhecimentos e habilidades técnicas, mas também uma visão de negócio e um conjunto de especializações complementares, muitas vezes distantes do dia-a-dia do desenvolvimento de software apenas. Disciplinas sobre gestão de pessoas, estratégias de negócio, roadmap de produtos, conhecimento de mercado, fornecedores e tendências em tecnologia também estão envolvidas.

Em muitos cenários corporativos não temos apenas um arquiteto mas sim um comitê ou grupo de arquitetura envolvido nessas decisões. Isso torna o trabalho mais fácil, permitindo a divisão de tarefas de acordo com a especialidade de cada membro da equipe. Já que citamos o arquiteto, cabe aqui uma definição sobre ele também.

O que é um Arquiteto de TI?

Segundo o IASA, o Arquiteto de TI é um estrategista na organização, sendo responsável pela tradução entre os objetivos de negócio e a tecnologia que suportará as necessidades de negócio da empresa.

Pensando desse modo, o arquiteto de TI tem um impacto muito mais amplo que apenas a decisão entre um Design Pattern ou outro. Seu escopo de atuação pode ser tão maior quanto as necessidades da empresa. Por isso, diferentes perfis de arquitetura e de arquitetos existem no mercado. E essa variação ainda depende da indústria ou ramo de atividade da organização.

Arquitetos podem atuar em arquitetura de soluções, em infraestrutura, em arquitetura da informação, segurança, serviços, gerenciamento de projetos, etc. Segundo o IASA, essas são especializações de um arquiteto de TI. Grupos formados com arquitetos com diferentes especialidades oferecem uma visão mais completa dos cenários possíveis para a arquitetura corporativa na empresa.

Se você é um arquiteto em sua empresa e seu dia-a-dia tem sido tomado apenas por decisões técnicas a respeito da arquitetura do software ou produto em desenvolvimento, nenhum problema aqui! Agora você sabe que existe uma longa estrada pela frente que pode ser uma bela visão de carreira de longo prazo. Seus caminhos se multiplicaram e você pode aumentar seu impacto para a empresa. Pense nisso!

Alinhamento entre Negócio e TI

Um dos principais desafios envolvidos na arquitetura de TI e no dia-a-dia de um arquiteto é alinhar os objetivos de negócio da empresa com as decisões sobre software, plataforma e infraestrutura. Ao longo dos anos, vimos as flutuações do mercado, com crises financeiras, pacotes fiscais, aquecimentos e resfriamentos econômicos, além de outros humores que tiveram impacto direto no funcionamento das empresas. Nesse mesmo período, TI tem sido um fator de sobrevivência ou inovação para diversas empresas e seu uso estratégico é tão importante quanto a própria missão da organização.

Senão vejamos: em recente pesquisa realizada pela Wharton School of Business, foram eleitas as principais inovações dos últimos 30 anos. Veja a seguir:

  1. Internet, broadband, Web browser e HTML
  2. Computadores PC e laptops
  3. Telefones móveis
  4. E-mail
  5. Teste de DNA e mapeamento/sequenciamento do genoma humano
  6. Imagem por ressonância magnética (Magnetic Resonance Imaging - MRI)
  7. Microprocessadores
  8. Fibras ópticas
  9. Softwares de escritório (planilhas, processadores de texto)
  10. Cirurgia robótica e não invasiva, baseada a laser (laparoscopia)

Note que entre as várias inovações apontadas, tecnologia aparece como fator comum, quando não é a própria inovação. Assim, temos a internet, a web, a telefonia móvel, o impacto das fibras ópticas para as telecomunicações e mesmo inovações na medicina, em equipamentos e novos procedimentos cirúrgicos. TI está em todo lugar. Podemos concordar que de fato, trabalhamos hoje numa área extremamente importante para a humanidade, não? J

Agora pense na importância da escolha correta de uma arquitetura de TI, que suporte cada inovação existente em sua empresa, seja uma planta industrial, uma empresa de serviços laboratoriais ou um ISV – Independent Software Vendor, criando soluções para o mercado financeiro. Uma escolha atualizada e investimentos estratégicos em tecnologia da informação podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma empresa, em qualquer situação de mercado ou ramo de atividades.

Para pensar sobre o assunto:
Você sabe descrever a missão de sua empresa? Qual é a importância da TI para a execução do negócio alvo em sua empresa? Você sabe qual foi o impacto da TI no balanço atual do último ano?

TI estratégica ou TI operacional?

A figura 2 ilustra a diferença entre uma TI estratégica e uma TI operacional e seu impacto para uma organização, veja:


Figura 2 – TI estratégica e TI operacional.

Na figura 2, vemos que existe uma janela de diferenciação no mercado, para as empresas que adotam tecnologias nos primeiros momentos de seu surgimento. Para essas empresas, a TI é estratégica e fornece um fator de diferenciação, flexibilidade e eficiência operacional muito maior em relação aos demais competidores do mercado. Para as empresas que adiam a adoção de inovações tecnológicas, a TI torna-se um elemento puramente operacional, que atrasa os benefícios de TI para os objetivos de negócio da empresa.

No Brasil, já foi dito que mais de 70% das empresas de médio e grande porte atuavam com uma TI operacional, sem aproveitar os benefícios do estágio atual de tecnologias presente no mercado. Não tenho essa pesquisa atualizada, mas creio que podemos arriscar que esse número contínua elevado, o que é um problema.

O risco de execução de uma TI operacional pode ser melhor entendido através das Cinco Forças de Porter (1979), como vemos na figura 3.


Figura 3 – Modelo de cinco forças de Michael Porter (1979).

O modelo das Cinco Forças de Porter foi criado por Michael Porter em 1979 e tem por objetivo a análise da competição entre empresas. O modelo considera cinco fatores importantes, as chamadas "forças" competitivas, que devem ser estudadas para o desenvolvimento de uma estratégia empresarial eficiente.

Segundo o modelo, as forças competitivas que atuam sobre uma empresa são:

  1. Poder de barganha dos fornecedores;
  2. Poder de barganha dos clientes/consumidores;
  3. A ameaça de novos entrantes no mercado;
  4. A ameaça de produtos e serviços substitutos;
  5. Grau de rivalidade entre os concorrentes do mercado;

Usando como base as Forças de Porter, podemos dizer que sua TI pode ter um papel maior ou menor para a sobrevivência da empresa de acordo com sua exposição ao mercado.

Por exemplo, se para um banco de varejo a força dos consumidores for muito grande, exigindo uma usabilidade maior de seus sistemas via web, seu Internet Banking deve contemplar as melhores práticas para aplicações ricas pela Web, como RIA – Rich Internet Application. Assim, sua TI precisa suportar esse tipo de aplicação. Se novos produtos e serviços emergentes são uma ameaça constante em sua indústria, por exemplo, o desenvolvimento de leitores de livros digitais (e-readers), sua TI deve oferecer flexibilidade e agilidade para as áreas de negócio, facilitando a criação de campanhas, novos produtos ou ações estratégicas com serviços mais competitivos, e assim por diante.

Portanto, podemos dizer que a arquitetura corporativa possui impacto direto na forma como uma empresa faz negócio, sendo de maior ou menor impacto, de acordo com a visão estratégica da TI para a empresa e o conjunto de forças competitivas existentes em seu mercado de atuação.

Para esse tipo de engajamento estratégico, o que um profissional como um arquiteto de TI precisa saber?

Habilidades de um Arquiteto de TI

Existem muitas habilidades que um arquiteto de TI precisa ter para garantir um bom alinhamento entre as várias áreas envolvidas na empresa e os passos que serão executados para a implantação de uma arquitetura corporativa. Conhecimento de negócio, visão sobre o impacto financeiro, análise sobre ROI – Return of Investiment, roadmap de produtos e tecnologias de fornecedores, gerenciamento de pessoas, conflitos, etc, são apenas algumas dessas habilidades desejadas para um arquiteto.

Além dessas várias competências, dispor de um bom conjunto de ferramentas e técnicas é fator decisivo para uma atuação mais profissional. Assim, uma pergunta recorrente em debates de arquitetura é sobre o conjunto de habilidades que um arquitetura de TI deve possuir.

Novamente, segundo o IASA, podemos definir um conjunto de capacidades e conhecimentos básicos necessários para uma boa atuação do arquiteto. Veja a figura 4.


Figura 4 – Habilidades de um arquiteto de TI para a Enterprise Architecture, segundo o IASA.

Partindo da arquitetura corporativa, temos 4 principais especializações: arquitetura de software, arquitetura de infraestrutura, arquitetura de informação e arquitetura de negócio. Claro, existem outras especializações possíveis, mas o IASA simplificou o mapa agrupando as funções nessas quatro grandes caixas.

Para todas essas especializações, a base de conhecimento do arquiteto é a mesma, envolvendo cinco pilares de conhecimento:

  1. Estratégias de Tecnologia de Negócios (Business Technology Strategy), que envolve os fundamentos de negócio, estratégias de racionalização e desenvolvimento, análise da indústria, validação de negócio, planejamento e priorização de investimentos, etc.
  2. Ambiente de TI (IT Environment), que envolve o desenvolvimento de aplicações, a infraestrutura, o gerenciamento de projetos, plataformas e frameworks existentes, gerenciamento de mudanças, etc.
  3. Atributos de Qualidade (Quality Attributes), que definem as características não funcionais de um componente ou sistema, como usabilidade, performance, disponibilidade, escalabilidade, gerenciamento, localização, etc.
  4. Desenho (Design), envolvendo o desenho de sistema, metodologias de projeto e processos, modelagem de requisitos, patterns e estilos adotados, métodos de análise e testes, etc.
  5. Dinâmicas Humanas (Human Dynamics), envolvendo aspectos como liderança, relacionamento, gerenciamento de pessoas, interação entre pares, técnicas de apresentação e escrita, colaboração entre grupos, etc.

Entre os vários pilares de conhecimento esperados de um arquiteto, Dinâmicas Humanas (Human Dynamics) é o grupo mais desafiador, pois envolve o domínio da cultura organizacional, das relações de poder e tomada de decisões, o mapa de influências e principalmente o gerenciamento de pessoas. Seja usando metodologias ágeis ou participando de grupos hierárquicos rígidos em projetos internacionais, a gestão de pessoas é sempre um desafio que exige atenção constante.

Cada um desses pilares oferece um conjunto completo de disciplinas que o arquiteto de TI deve cultivar para o exercício de sua profissão, ampliando assim seu impacto na organização.

Para pensar sobre o assunto:
Um projeto de Enterprise Architecture exige pessoas bem preparadas para sua execução. Seja para uma grande empresa ou para uma softwarehouse de 10 funcionários, as disciplinas descritas pelo IASA Foundations são muito bem vindas como parte da formação do arquiteto de TI. Faça uma avaliação pessoal sobre suas capacidades e identifique quais áreas precisam ser melhoradas. Sempre podemos melhorar em alguma.

Frameworks de Arquitetura e outras ferramentas

Até aqui, vimos o impacto da Arquitetura Corporativa para uma organização e sua importância. Também vimos um resumo sobre as habilidades esperadas de um arquiteto de TI para a condução de uma arquitetura desse porte. Já deu para notar que um arquiteto corporativo não é feito da noite para o dia. Acima de tudo, o arquiteto de TI está se tornando uma PROFISSÃO de longo prazo, que acumula experiência em projetos reais e vivências de campo, com especializações diversas e conhecimento multi-disciplinares, técnicos e de negócio.

Assim como qualquer profissional especializado, é importante que o arquiteto corporativo utilize algumas ferramentas para facilitar seu dia-a-dia. O uso de ferramentas estratégicas também garante ao arquiteto a entrega de um trabalho mais profissional e de melhor qualidade, permitindo a rastreabilidade, o versionamento e um controle histórico de sua evolução.

Encontramos no mercado diversas ferramentas para a construção de arquiteturas corporativas, como processos, frameworks e metodologias de execução, das mais variadas.

A figura 5 ilustra algumas das principais ferramentas do mercado.


Figura 5 – Frameworks e Metodologias para a Arquitetura Corporativa.

Veja, do lado esquerdo temos alguns métodos conhecidos no ambiente de TI como ITIL - Information Technology Infrastructure Library, COBIT - Control Objectives for Information and related Technology, PRINCE, entre outros. Esses métodos organizam processos, definem papéis e permitem uma melhor administração dos componentes de TI de uma empresa. Do lado direito temos os principais frameworks de arquitetura, que oferecem uma estrutura de criação/implementação de uma arquitetura corporativa. São exemplos o FEA - Federal Enterprise Architecture, DODAF - Department of Defense Architecture Framework, TOGAF, ZACHMAN, etc.

Coloquei a caixa IASA no centro abaixo, pois entendo suas disciplinas como fundamentais para a execução tanto de métodos como frameworks de arquitetura, sendo os pilares de conhecimento para a profissão do arquiteto de TI.

Vamos agora olhar um pouco mais sobre frameworks de arquitetura. Um framework de arquitetura oferece um conjunto bem definido de fases, atividades, documentos, processos, templates, recomendações e métricas para a execução de uma arquitetura corporativa. Dois exemplos clássico são o TOGAF e o ZACHMAN.

O Zachman Framework

O Zachman framework é um framework de arquitetura corporativa que fornece um mecanimo bem estruturado de definição dos componentes de uma corporação.

Ele usa um modelo de classificação em duas dimensões baseado nas seis questões básicas de comunicação (O quê, Como, Onde, Quem, Quando, e Por quê) fazendo um cruzamento com seis tipos distintos de stakeholders  ou interessados no projeto (Visionário, Dono, Projetista, Construtor, Implementador e Trabalhador). Note, saber identificar os principais interessados e stakeholders de um projeto de arquitetura é crítico para o sucesso do projeto.

Com esse mapeamento, o ZACHMAN framework oferece uma visão ampla da corporação ou negócio que está sendo modelado.

A tabela principal do ZACHMAN aparece na figura 6, com seus principais componentes. Nessa figura, você nota as clássicas perguntas de comunicação What (O que), How (Como), Where (Onde), Who (Quem), When (Quando) e Why (Por que).


Figura 6 – The Zachman Framework, com as perguntas What (O que), How (Como), Where (Onde), Who (Quem), When (Quando), Why(Por que).

Existe muito material na web sobre o ZACHMAN Framework. Para saber mais sobre o framework, confira o novo portal sobre Centro de Excelência em Arquitetura Corporativa, no link a seguir:

Enterprise Architecture Center of Excellence

Ref.: http://eacoe.org/index2.shtml

The Open Group Architecture Framework (TOGAF)

O TOGAF – The Open Group Architecture Framework – é um framework de arquitetura mas completo, oferecendo uma estrutura bem definida de fases e processos de execução para a construção de uma arquitetura corporativa. Para isso, o TOGAF define o chamado ADM – Architecture Development Method, que define entradas e saídas para cada fase prevista no processo de construção de uma arquitetura.

Entre as principais fases do ADM segundo o TOGAF v9 temos:

  1. Fase Preliminar
  2. Fase A - Visão de Arquitetura
  3. Fase B - Arquitetura de Negócio
  4. Fase C - Arquitetura de Informação e Arquitetura de Sistemas
  5. Fase D - Arquitetura de Tecnologia
  6. Fase E - Oportunidades e Soluções
  7. Fase F - Planejamento de Migração
  8. Fase G - Governança de Implementação
  9. Fase H - Gerenciamento da mudança de arquitetura

Cada fase ADM possui um mapeamento completo de atividades, assim como documentos, valores de entrada e saída para cada fase e impacto sobre os artefatos gerados para a arquitetura corporativa.

A figura 7 apresenta a estrutura principal do ADM, onde vemos as diversas fases de execução da arquitetura segundo o TOGAF v9, confira:


Figura 7 – The ADM – Architecture Development Method from TOGAF v9.

O ADM apresenta diversas fases que podem ser executadas de forma cíclica, com várias interações ao longo do projeto. Um dos componentes importantes do TOGAF é o chamado Enterprise Continuum que é um mecanismo de classificação muito prático sobre os artefatos da arquitetura, sejam internos ou externos, ao longo de um projeto. Vale notar que todas as fases do ADM suportam o Enterprise Continuum, isto é, em todas as fases temos uma evolução sobre os componentes de reuso e principais artefatos da arquitetura, conforme vão sendo criados e identificados.

Outro aspecto importante no ADM TOGAF é o Gerenciamento de Requisitos de Arquitetura. Note no desenho da figura 7 que o centro do ADM é o Gerenciamento de Requisitos, atividade essa que comunica com todas as fases do projeto. Manter uma repositório de documentos, histórico de decisões, lista de princípios arquiteturais, templates e patterns que serão adotados é muito importante num projeto como esse.

Para saber mais sobre TOGAF e seus processos, confira o portal a seguir:

The Open Group - TOGAF

Ref.: http://www.opengroup.org/togaf/

TOGAF e ZACHMAN são ferramentas importantes que precisam ser conhecidas pelo arquiteto, permitindo uma execução mais profissional das atividades em arquitetura corporativa. Ainda existem outros frameworks de arquitetura, como DODAF, MODAF, FEA, AGATE, etc. Além dos frameworks de arquitetura, disciplinas e métodos de governança como ITIL, DSDM, COBIT, etc. também são importantes para uma coordenação clara de atividades e papéis envolvidos com a arquitetura corporativa nas organizações.

Porém, para todos esses processos devemos selecionar os aspectos e disciplinas que fazem sentido para a realidade de nossa empresa. Ela deve ser soberana para a personalização desses frameworks, adaptando suas fases e recomendações para suas reais necessidades. Somente assim a arquitetura corporativa será construída de forma aderente ao dia-a-dia, sem se tornar um entrave burocrático ou penoso para os envolvidos no projeto.

Um artigo que apresenta uma boa comparação sobre os principais frameworks de arquitetura você encontra a seguir:

Uma comparação entre as quatro principais metodologias de arquitetura corporativa

Ref.: https://msdn.microsoft.com/pt-br/library/bb466232.aspx

Arquitetura Corporativa como Instrumento de Gestão

Finalmente, pensando na Arquitetura Corporativa como instrumento de gestão, a figura 8 ilustra os diferentes níveis presentes numa empresa e os componentes de arquitetura relacionados.


Figura 8 – Elementos de uma arquitetura corporativa como instrumento de gestão, por Lankhorst (2009).

A partir da missão da empresa, sua visão e sua definição estratégica, temos um maior entendimento sobre as aspirações de negócio da compania, sendo possível mapear os desejos futuros da organização. Nem sempre o arquiteto de TI participa dessas definições, mas a maioria das empresas possuem informações públicas sobre balanços, investimentos de médio e longo prazo, assim como faturamento e crescimento anual.

A seguir, traçar um roadmap de evolução passa pela análise da situação atual, quando o arquiteto deve identificar componentes existentes, estado da plataforma e ambiente em operação, assim como principais riscos e desafios enfrentados pelo ambiente de TI.

Com esse mapa do estado atual e desejos futuros, passamos para a construção de um plano de ação, que deve trabalhar todos os componentes da arquitetura e seus artefatos, como domínios, aspectos, tecnologias, cultura, pessoas e liderança. Veja, aqui podemos aplicar todo o conhecimento apresentado no artigo, como as habilidades do IASA Foundations, as fases do TOGAF ou mesmo processos e metodologias de governança e infraestrutura que existam na empresa.

Finalmente, temos assim um projeto de arquitetura corporativa em andamento. Enquanto evoluímos gradualmente os componentes de TI, precisamos acompanhar os produtos, processos, pessos e componentes de TI em operação. Nesse ponto, trabalhar com uma plataforma de aplicações com capacidades completas fará a diferença. Sua plataforma de aplicações oferece as capacidades necessárias para uma operação integrada e facilitada? Você conhece o mapa completo de capacidades da plataforma Microsoft, por exemplo?

Para pensar sobre o assunto:
Conhecer as informações de negócio da empresa é um primeiro passo para um melhor posicionamento da área de TI em que você trabalha. Procure saber a importância de sua área e de seu cargo para os demais grupos, medindo assim sua importância para a missão da empresa.

Assim, vimos um exemplo de uso da arquitetura corporativa como instrumento de gestão e evolução do ambiente de TI ao longo do tempo.

Roadmap e Certificação

Na Microsoft, existem diversos arquitetos atuando em times de produtos, adoção de plataforma, serviços e consultoria. Até o início desse ano, a Microsoft possuia uma certificação de arquitetura chamada MCA - Microsoft Certified Architect. Duas certificações eram disponíveis: MCA Infrastructure e MCA Solutions. 

Em Maio de 2010, a Microsoft descontinuou o programa MCA, adotando a certificação Certified IT Architect–Professional (CITA-P)  do IASA como sua certificação principal para arquitetos. Veja o link a seguir:

Ref. : https://www.microsoft.com/learning/en/us/certification/architect.aspx

Diversos arquitetos já foram certificados, defendendo diante de uma banca a experiência de campo e domínio sobre as principais disciplinas da arquitetura corporativa, como vimos resumidamente neste artigo.

Se estiver pensando na evolução de sua carreira como arquiteto, vale a pena conhecer as disciplinas e fundamentos da arquitetura corporativa. Para quem ficou interessado sobre certificação, recomendo visitar o portal do IASA e começar com o material lá publicado. O roadmap de certificação para o IASA CITA-P é apresentado na figura 9, veja:


Figura 9 – Mapa de carreira para o arquiteto de TI, segundo o IASA.

Para saber mais, confira o link: http://www.iasahome.org/web/home/certification   

E se ficou interessado na execução de um projeto de Enterprise Architecture, o TOGAF também oferece um programa de certificação bem completo. A figura 10 oferece esse mapa para sua preparação, veja:


Figura 10 – Mapa de certificação segundo o TOGAF.

Para saber mais, confira o link: http://www.opengroup.org/togaf9/cert/ 

Considerações Finais

Segundo o Gartner, hoje a Enterprise Architecture está em seus primeiros anos de vida. Na primeira edição do Gartner Hype Cycle for Enterprise Architecture de Julho de 2010, vemos a governança corporativa, as certificações de arquitetura, a arquitetura de negócios e outras disciplinas em suas primeiras versões, com grande potencial de crescimento e maturidade para os próximos anos.

Veja mais aqui: http://www.gartner.com/DisplayDocument?doc_cd=201646&ref=g_rss

Podemos dizer que a Arquitetura Corporativa será cada vez mais importante nas organizações, assim como o papel do Arquiteto de TI. Portanto, prepare-se e não deixe de acompanhar mais essa tendência.

Este artigo apresentou apenas uma visão geral sobre o assunto e espero que tenha ajudado você a entender um pouco mais sobre o tema. Para complementar, veja a seguir alguns livros e links sugeridos para leitura. Bons projetos e até a próxima. J

Livros recomendados

“Enterprise Architecture As Strategy: Creating a Foundation for Business Execution”, Jeanne W. Ross | Peter Weill, ISBN-10: 1591398398, Harvard Business Press, (August 1, 2006)

“The Innovator's Dilemma - When new technologies cause great firms to fail“, Clayton M. Christensen, ISBN-10: 0875845851, Harvard Business Press, 1st edition (May 1, 1997)

“The Future of Management”, Gary Hamel, ISBN-10: 1422102505, Harvard Business School Press; 1st edition (September 10, 2007)

"An Introduction To Enterprise Architecture", Scott Bernard, ISBN-10: 1420880500, AuthorHouse Press, 2nd edition (September 6, 2005)

"TOGAF Version 9 Foundation Study Guide", Rachel Harrison, ISBN-10: 9087532318, Van Haren Publishing, 3rd edition (July 8, 2009)

"Enterprise Architecture at Work: Modelling, Communication and Analysis", Marc Lankhorst, ISBN-10: 3642013090, Springer Press, 2nd ed. edition (September 18, 2009)

IASA Home - Training

http://www.iasahome.org/web/home/training 

IASA Home - Certification

http://www.iasahome.org/web/home/certification   

Enterprise Architecture Center of Excellence

http://eacoe.org/index2.shtml 

The Open Group – TOGAF

http://www.opengroup.org/togaf/  

Zachman Framework (ZACHMAN)

http://en.wikipedia.org/wiki/Zachman_Framework

The Open Group Architecture Framework (TOGAF)

http://en.wikipedia.org/wiki/The_Open_Group_Architecture_Framework

Federal Enterprise Architecture (FEA)

http://en.wikipedia.org/wiki/Federal_Enterprise_Architecture

Department of Defense Architecture Framework (DODAF)

http://en.wikipedia.org/wiki/Department_of_Defense_Architecture_Framework

Information Technology Infrastructure Library (ITIL)

http://en.wikipedia.org/wiki/Information_Technology_Infrastructure_Library

Control Objectives for Information and related Technology (COBIT)

http://en.wikipedia.org/wiki/Control_Objectives_for_Information_and_related_Technology

Cinco Forças de Porter

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinco_for%C3%A7as_de_Porter

Uma comparação entre as quatro principais metodologias de arquitetura corporativa

https://msdn.microsoft.com/pt-br/library/bb466232.aspx    

Microsoft Certified Architect

https://www.microsoft.com/learning/en/us/certification/architect.aspx

Sobre o Autor

Waldemir Cambiucci (wcambiuc@hotmail.com) trabalha na Microsoft Brasil como arquiteto de soluções, com foco na comunidade de arquitetos e clientes corporativos. É graduado em Engenharia de Computação, mestre em Engenharia Elétrica e Pós-Graduado em Finanças e Administração. Com mais de 15 anos de experiência em TI, atua na Microsoft há 8 anos, tendo participado de projetos importantes no Brasil e no exterior. É palestrante frequente em diversos eventos técnicos e escreve periodicamente para revistas e sites de tecnologia. É membro do IASA Global (International Association of Software Architects) e certificado IASA Foundations, além de diversas certificações Microsoft. Seu blog é o https://blogs.msdn.com/wcamb/ e seu twitter é o http://twitter.com/wcamb/.